Se quer ajudar Eduardo Paes, Janja não deve insistir no nome de Anielle Franco para vice

A hipotética indicação da ministra da Igualdade Racial levaria Paes a enfrentar o debate eleitoral no campo identitário e ideológico, exatamente como deseja o bolsonarismo

RICARDO BRUNO

É zero a chance de a ministra Anielle Franco integrar a chapa de Eduardo Paes à reeleição, como deseja a primeira-dama, Janja. Estranha aos quadros do PT, a irmã da ex-vereadora Marielle não tem histórico de militância na sigla; não desperta, portanto, a simpatia dos próprios dirigentes petistas locais. Sua filiação está prevista para o próximo mês. Nas fileiras do partido, outros nomes têm precedência.

A hipotética indicação da ministra levaria Paes a enfrentar o debate eleitoral no campo identitário e ideológico, exatamente como deseja o bolsonarismo. Tiraria do prefeito um dos seus maiores trunfos: o conhecimento sobejo da cidade. Seria  a hipótese dos sonhos do delegado Alexandre Ramagem, que pouco ou quase nada conhece sobre  questões administrativas municipais.

Não basta ter simpatia ou gostar de Anielle Franco, como parece o caso da primeira-dama. A montagem de uma chapa exige argúcia. Um erro crasso de estratégia como este tem o potencial de fragilizar uma candidatura potencialmente vencedora. Paes está disparado na frente dos prováveis contendores, mas não pode errar de modo tão primário.

Eleições, via de regra, são decididas por candidatos com predicados pessoais reconhecidos e que mais acertam no curso do processo eleitoral. Três vetores impactam decisivamente o resultado das urnas: o candidato, seus acertos ou erros e a conjuntura. Nenhum dos aspectos pode ser descuidado.

A pauta identitária e de costumes, como sinaliza Felipe Nunes  e Thomas Traumann no espetacular “Biografia do Abismo”, passou a ter peso tão preponderante no eleitorado nacional quanto  questões objetivas relacionadas a políticas públicas sobre desenvolvimento. Trazê-la intencionalmente ao debate seria papel dos adversários ou de neófitos bem-intencionados, como parece o caso de Janja.

A possibilidade de o PT indicar o vice é remotíssima. Vai depender da força de Eduardo Paes no prazo limite das convenções. Se exibir musculatura para levar com tranquilidade a eleição, vai ele próprio escolher seu companheiro de chapa. No caso, o deputado Pedro Paulo, há décadas fiel escudeiro do prefeito.

Caso ceda ao PT, hipótese improvável, o nome mais cotado seria o do atual secretário de Ação Social, Adilson Pires, que já foi vice de Paes em outro mandato. E tem a absoluta confiança do prefeito. Ex-vereador e com amplo histórico de convivência com Paes, Pires seria o único petista que, a despeito da diferença partidária, integra o grupo político do candidato do PSD. Seu estilo discreto e conciliador, prenhe de astúcia e mineirice, lhe dá essa rara ambivalência na política fluminense.

O PT sabe, contudo, que não pode esticar a corda. O principal projeto do partido é a reeleição de Lula em 2026 e o apoio de Eduardo Paes, no Rio, pode ser decisivo. Lula não deve prescindir de uma dobradinha com o nome que surge desde já com enorme potencial para capturar o Palácio Guanabara na sucessão de Cláudio Castro.

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