Parlamentar federal de longo curso, testada, é um bom motivo para voto

*Paulo Baía Continuando a série das dificuldades das campanhas a deputado estadual, deputado federal e senador.Creio, em tese e proposta, que essas eleições para deputados e senadores devem ser separadas, solteiras, como são as bem sucedidas eleições para prefeitos/prefeitas e vereadores.Efetivamente, temos que pensar em uma maneira de separar essas eleições em anos distintos.Já propus…

*Paulo Baía

Continuando a série das dificuldades das campanhas a deputado estadual, deputado federal e senador.
Creio, em tese e proposta, que essas eleições para deputados e senadores devem ser separadas, solteiras, como são as bem sucedidas eleições para prefeitos/prefeitas e vereadores.
Efetivamente, temos que pensar em uma maneira de separar essas eleições em anos distintos.
Já propus em artigos antigos essa distinção.
Temos que ter um ano com a eleição para governador, deputado estadual e senador, ou seja, uma eleição do ente federado, para os 26 estados e para o Distrito Federal.
Temos que ter uma eleição para deputados federais junto com a de presidência da república. A chefia do Poder Executivo da União e a representação da população no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados, no mesmo ano e isolada, só presidente da república e deputados federais.
Manter a eleição de prefeito e vereador como está, pois na eleição para prefeito/a e vereadores/vereadoras, a pauta é exclusivamente o município, a cidade, nos 5570 municipios. Não existe a nacionalização do pleito.
Não há um sombreamento, um eclipse das campanhas de prefeitos e vereadores pela campanha de presidente da república.
Nas eleições exclusivamente municipais, não há como fugir de discutir, debater a própria cidade do eleitor.
Portanto, o modelo eleitoral deve ter em mente as eleições de prefeitos e vereadores, que são eleições solteiras, isoladas, em que o eleitor tem como preocupação exclusiva a sua cidade, seu município, escolhe vereadores e prefeitos sintonizados com as suas necessidades reais, do dia-a-dia, com as suas carências de momento e/ou históricas.
Para presidente da república, governador, senador, deputado federal e deputado estadual, vamos continuar com esse eclipse, com esse sombreamento das campanhas de deputado federal, deputado estadual e senador, fazendo com que as escolhas, a reflexão e o debate público sobre a bancada de deputados estaduais, a bancada de deputados federais e a bancada de senadores não se faça de maneira adequada.
Pois o eleitor é pressionado, numa eleição geral, a votar em presidente da república, a pensar prioritariamente em presidente da república. Em segundo lugar, mas bem distante do primeiro lugar nas preocupações do eleitor, vem o candidato a governador.
As próprias mídias que alertam para a importância do voto para deputados e senadores não tem espaço para candidatos a deputado estadual, deputado federal e senador em uma eleição junto com presidente da república e governador.
A pauta é, diariamente, para presidente e, dia sim dia não, para governador do estado, jamais para deputados estaduais e federais e/ou para senador.
É verdade que alguns jornais, algumas rádios e TVs, em alguns grupos de mídia, trazem alguns perfis de deputados estaduais, federais e senadores, mas isso é pouco, pois o foco não é a campanha para deputado federal, deputado estadual e senador.
Nessa questão da falta de foco em deputados, venho destacar o papel da deputada Benedita da Silva. Benedita da Silva é uma das deputadas mais atuantes do Congresso Nacional desde que lá chegou em 1987. Ela foi eleita pela primeira vez vereadora da cidade do Rio de Janeiro em 1982, pelo recém fundado Partido dos Trabalhadores, e em 1986 venceu a eleição para deputada federal/constituinte.
Benedita da Silva sempre permaneceu no Partido dos trabalhadores. Tem uma trajetória absolutamente notável como deputada federal no mandato de 87 a 91, como constituinte. No mandato seguinte, renovado em1990, segue como deputada federal e novamente em 1994 volta pelo voto popular à Câmara dos Deputados.
Com outras estruturas e escopo, em 1998 é candidata a vice-governadora do estado do RJ junto com Anthony Garotinho.
Em 2006, Garotinho renuncia e é candidato a presidência da república pelo PSB.
Benedita da Silva assume como governadora do estado do Rio de Janeiro por nove meses, e é candidata a reeleição em 2002. Ela não tem o privilégio de vivenciar a vitória, vencida por Rosinha Garotinho no primeiro turno.
Benedita da Silva fica, a partir de 01 de janeiro de 2003, sem mandato. Nesse mesmo dia ela toma posse como Ministra de Estado do primeiro governo Lula da Silva, e desenvolve um intenso trabalho como ministra de estado, compensando a derrota para o governo do Rio de Janeiro.
Benedita desempenhou com coragem e afinco o cargo de Ministra de Estado.
Volta como senadora em 2006.
Confesso que fiquei apreensivo, pois as pessoas não sabem exatamente o que faz um senador – em muitos casos o próprio senador não sabe o que tem que fazer como senador.
Benedita da Silva, uma ativista de pautas nacionais, na linha de pensar as grandes questões do Brasil, da brasilidade, da nacionalidade brasileira, soube compatibilizar essa pauta nacional com uma pauta local e estadual. Benedita representou muito bem o ente federado estado do Rio de Janeiro e os seus 92 municípios como entes federados equipotentes à União como Senadora.
Foi um mandato exemplar, produtivo, que trouxe muito para o estado do Rio de Janeiro.
Benedita da Silva continuou sua trajetória de gestora pública. Foi secretária de estado de direitos humanos e assistência social do Rio de Janeiro.
Benedita da Silva se destaca como vereadora, no poder legislativo local, na área estadual como governadora e como senadora, na área da gestão pública como ministra de estado e como secretária estadual.
Por isso, falo sobre a eleição dos deputados não poder continuar sombreada, eclipsada pela eleição polarizada entre Lula e Bolsonaro.
Benedita da Silva precisa voltar ao Congresso Nacional na legislatura que se inicia no dia primeiro de Fevereiro de 2023.
Assim continuo a série das dificuldades de eleição de deputados estaduais, federais e senadores ao incluir o nome da deputada Benedita da Silva, para que a população, o eleitorado do estado do Rio de Janeiro, pense nesse nome, nessa mulher negra e favelada, que já foi testada como parlamentar, ministra de estado e secretária de estado.
Benedita é o nome das lutas que vencemos.

*Sociólogo, cientista político, técnico em estatística e professor da UFRJ.

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