Onda de frio deve chegar ao Rio Grande do Sul e pode piorar situação no estado

Queda da temperatura pode provocar um aumento nos casos de hipotermia de pessoas isoladas pelas chuvas e que aguardam resgate, além de dificultar as condições de salvamento

Uma onda de frio, prevista para chegar ao Rio Grande do Sul na quarta-feira, pode piorar o cenário no estado, duramente castigado pelas chuvas torrenciais que caem desde o fim de abril e afetaram 341 municípios, deixando 78 mortos e 108 desaparecidos até o início da noite de ontem.

O Comando Militar do Sul informou ontem que deve haver queda de temperatura de até 10°C em algumas regiões, o que pode provocar um aumento nos casos de hipotermia (quando a temperatura corporal está menor que 35°C) de pessoas isoladas pelas chuvas que aguardam resgate, além de dificultar as condições de salvamento.

Em entrevista coletiva em Porto Alegre, os militares informaram ontem que havia previsão de uma janela de bom tempo entre domingo e esta terça-feira, mas, ainda assim, hoje algumas áreas do extremo sul do estado ainda deveriam ter chuva forte. De acordo com o CMS, o resgate e a distribuição de alimentos e outros donativos são as prioridades neste momento. Dos 844.673 moradores afetados no estado, 115.844 estão desalojados; e 18.487, em abrigos.

Poderes unidos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na coletiva, assim como os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e ministros. O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), também presente, informou que 70% da capital gaúcha está sem água. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), falou em “cenário de guerra”.

Lula afirmou que “não haverá impedimento da burocracia” para a recuperação do estado e prometeu a Leite que o governo federal irá recuperar as estradas estaduais.

O presidente viajou com a primeira-dama, Janja, e 13 ministros, incluindo Rui Costa (Casa Civil), José Mucio (Defesa), Fernando Haddad (Fazenda), Renan Filho (Transportes), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Nísia Trindade (Saúde) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima). Os ministros da Integração Nacional, Waldez Góes, e da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, já estavam no Rio Grande do Sul desde sábado para instalar um escritório em Porto Alegre.

Lula disse que cobrou de Marina Silva um plano de prevenção de desastres para que o governo “pare de correr atrás da desgraça”.

— É impossível discutir a questão do clima sem trazer a Marina, que está compromissada a me apresentar um plano de prevenção de acidentes climáticos. É preciso que a gente veja com antecedência o que pode acontecer de desgraça.

No mesmo evento, Pacheco e Lira afirmaram que o Congresso irá tomar medidas para ajudar na recuperação do Rio Grande do Sul.

— Soluções que se apresentam diante de uma situação excepcional e atípica também são soluções excepcionais e atípicas. Nós estamos em uma guerra, e em uma guerra não há limitações, não há restrições legais de tempos comuns — disse Pacheco.

Lira prometeu uma resposta efetiva:

— Essa semana será de muita negociação, de muito trabalho no Congresso Nacional, e a resposta será dura, firme e efetiva, como foi na pandemia.

Na mesma linha, o ministro do STF Edson Fachin, que representou o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, defendeu um “regime jurídico especial e emergencial” para responder à catástrofe.

Cenário caótico

Em todo o estado, o cenário é de caos. Há 424 mil residências sem eletricidade, 110 trechos em 61 rodovias com bloqueios totais e parciais e dez cidades sem fornecimento de combustível, enquanto em outras 65 a distribuição é parcial.

Porto Alegre, onde o Rio Guaíba atingiu nível sem precedentes desde a histórica enchente de 1941, está sob alerta de “inundação severa”. No Mercado Público, a água chegou a cerca de um metro de altura, cobrindo mesas e balcões de lojas. A Arena do clube de futebol Grêmio foi invadida e saqueada. Jogos dos quais o time e outras agremiações gaúchas participariam, por campeonatos importantes como o Brasileiro a Libertadores, foram adiados porque a estrutura de treinamento dos atletas foi afetada.

A Defesa Civil orientou a evacuação imediata de moradores das áreas de risco do município e de cidades vizinhas como Guaíba, Barra do Ribeiro, Gravataí, Canoas, Charqueadas, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Taquara. Em Canoas, voluntários deram as mãos e formaram um cordão humano para puxar barcos, na noite de sábado, na tentativa de resgatar pessoas ilhadas no bairro Mathias Velho.

Onda de solidariedade

Governadores de todo o país, como Romeu Zema (Minas Gerais), Tarcísio de Freitas (São Paulo), Cláudio Castro (Rio de Janeiro) e Jorginho Mello (Santa Catarina), intensificaram a ajuda ao estado durante o fim de semana, enviando mais aeronaves, equipes ou recursos.

Instituições e personalidades também buscam contribuir. Nesta madrugada, 11 surfistas de ondas grandes, incluindo Lucas Chumbo, Pedro Scooby e Michelle des Bouillons, chegaram ao Rio Grande do Sul levando roupas para doação e equipamentos utilizados no salvamento de atletas durante as competições, incluindo quatro jet-skis, dispostos a participar do resgate das vítimas. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais informou que vai transferir R$ 10 milhões do saldo remanescente da extinta Conta Regional de Destinação de Prestações Pecuniárias do Judiciário mineiro para a Defesa Civil do Rio Grande do Sul. O humorista Whindersson Nunes diz já ter arrecadado R$ 3 milhões para o estado, e a USP recebe água potável e material de limpeza.

Papa pede oração

A notícia da tragédia correu o mundo, e, ontem, no final da oração Regina Caeli, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa Francisco pediu que os fiéis rezassem pelas vítimas:

— Quero assegurar a minha oração pelas populações do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, atingidas por grandes inundações. Que o Senhor acolha os mortos e conforte os familiares e quem teve que abandonar suas casas.

Com informações do GLOBO.

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