O golpe militar de 1964 e a ditadura no Brasil: um capítulo sombrio na história nacional

Entre os capítulos mais sombrios da história brasileira está o Golpe Militar de 1964, que instaurou uma ditadura que perdurou por duas décadas, até 1985.

* Paulo Baía

O passado é um intrincado tecido de memórias e eventos que moldam o presente e projetam sombras sobre o futuro. Entre os capítulos mais sombrios da história brasileira está o Golpe Militar de 1964, que instaurou uma ditadura que perdurou por duas décadas, até 1985. Este período é marcado por uma série de violações aos direitos humanos, censura, perseguições políticas e um clima de repressão e medo que afetou profundamente a sociedade brasileira.

Ao completar 60 anos, a Ditadura Militar ainda ecoa em nossas memórias e em nossa realidade contemporânea. Uma geração de jovens que sonhava em mudar o mundo viu seus ideais serem brutalmente reprimidos pelos governos militares. As palavras que ecoavam durante aqueles anos eram carregadas de dor e sofrimento: tortura, morte, medo, clandestinidade, censura. Estes termos não são apenas registros históricos, mas feridas abertas que ainda não cicatrizaram completamente na alma do Brasil.

O Golpe de 1964 foi resultado de um contexto político e social tenso, com intensos conflitos ideológicos e uma polarização que dividiu a nação. Setores conservadores, com apoio de parte das Forças Armadas e de setores da sociedade civil, alegaram a necessidade de defender a democracia e combater a ameaça comunista para justificar o golpe contra o governo democraticamente eleito de João Goulart.

No entanto, o que se seguiu foi uma usurpação dos princípios democráticos e um regime autoritário que se consolidou no país. Durante os anos de chumbo, como ficaram conhecidos, a repressão atingiu diversos setores da sociedade. Intelectuais, artistas, estudantes, sindicalistas e ativistas políticos foram perseguidos, presos, torturados e muitos foram mortos ou desapareceram, deixando marcas indeléveis nas famílias e na sociedade brasileira.

A censura foi uma das principais armas utilizadas pelo regime para controlar a informação e calar a oposição. Jornais, revistas, livros, peças teatrais e filmes foram submetidos à vigilância e à manipulação, cerceando a liberdade de expressão e reprimindo qualquer forma de crítica ao governo. O medo se disseminou, e a população aprendeu a viver sob constante vigilância e ameaça.

A resistência, no entanto, também marcou esse período sombrio da história brasileira. Movimentos estudantis, sindicais, religiosos e políticos se organizaram para enfrentar a ditadura, mesmo sob risco de perseguição e violência. Greves, manifestações, atos de desobediência civil e a luta armada foram algumas das formas de resistência adotadas por aqueles que se opunham ao regime.

A abertura política gradual iniciada na década de 1980, conhecida como “Abertura”, foi resultado de uma combinação de pressões internas e externas, incluindo mobilizações sociais, a crise econômica, a pressão internacional e a própria dissidência dentro das Forças Armadas. A redemocratização do Brasil culminou com a eleição indireta de Tancredo Neves em 1985, após anos de mobilização e luta pela democracia.

No entanto, os resquícios da ditadura ainda ecoam na sociedade brasileira. A Lei da Anistia, promulgada em 1979, garantiu a impunidade aos agentes do Estado responsáveis por crimes cometidos durante o regime militar, o que gerou um intenso debate sobre a necessidade de justiça e reparação às vítimas da ditadura e seus familiares. O tema da memória histórica e da verdade sobre os anos de chumbo permanece atual, suscitando reflexões sobre os traumas do passado e seu impacto no presente.

O Golpe Militar de 1964 e a Ditadura que se seguiu até 1985 são capítulos sombrios e dolorosos na história do Brasil. Não podemos esquecer o que não pode ser esquecido, e é nosso dever como sociedade garantir que as gerações futuras conheçam e compreendam os horrores vividos por aqueles que lutaram pela democracia e pelos direitos humanos durante aqueles anos sombrios. Somente assim podemos construir um futuro verdadeiramente democrático e justo para todos os brasileiros.           

* Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ.

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