Chamar de populismo é ruim ou bom no marketing político?

*Paulo Baía Sem entrar em fontes conceituais teóricas das sociologias, das ciências políticas e da história sobre o populismo, quero compartilhar uma pesquisa do falecido IBOPE feita em 1994.A pesquisa procurava saber junto aos eleitores sua posição em relação a certas palavras, se não gostavam, o nível de rejeição às palavras.Duas palavras se destacavam na…

*Paulo Baía

Sem entrar em fontes conceituais teóricas das sociologias, das ciências políticas e da história sobre o populismo, quero compartilhar uma pesquisa do falecido IBOPE feita em 1994.
A pesquisa procurava saber junto aos eleitores sua posição em relação a certas palavras, se não gostavam, o nível de rejeição às palavras.
Duas palavras se destacavam na enquete, “populismo”e “maquiagem” .
Amigas e amigos , 80% dos entrevistados acreditavam que “populismo” era muito bom, então quando alguém era chamado de populista, os pesquisados acreditavam ser positivo, bom para o povo.
Entendiam que escolher um populista era ótimo para ele/ela pesquisado e para a totalidade da população.
O acusado de ser populista, ou que se autodefinia como populista, era aceito por mais de 80% dos entrevistados.
Outra questão era a palavra maquiagem, na época muito usada contra prefeitos e prefeitas da época. Principalmente na cidade do Rio de Janeiro, na primeira gestão de César Maia.
“A obra é de maquiagem”, “maquiou a praça ou avenida” eram expressões muito usadas contra o governo César Maia em função dos projetos urbanísticos “Bairro Cidade” e “Favela Bairro”, projetos com que ele fazia a reorganização de determinadas áreas da cidade do Rio de Janeiro e determinadas favelas, com muito impacto.
A acusação pela oposição a César Maia ou Paulo Maluf de estar fazendo maquiagem era bom para os dois, pois a população adorava ver a cidade “bem maquiada”.
Estar maquiando a cidade tinha um sentido de embelezar, valorizar. Sobretudo entre o público feminino a palavra maquiagem batia recorde de
aceitação e de admiração.
Isso acontecia entre a maioria do público masculino também.
Não desconsiderando as teorias sociológicas e historiográficas, é bom a gente trazer uma experiência do senso comum, etnográfica, fora dos conceitos rígidos das ciências sociais.
A palavra populismo veiculada nas mídias nas campanhas publicitárias, em especial nas campanhas eleitorais, do mesmo modo que a palavra maquiagem, são bem recebidas pelo eleitor/eleitora, que as considera positivas.
Fernando Henrique Cardoso parou de chamar Lula, Brizola e Enéas de populistas na campanha em que foi eleito em 1994.

*Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ.

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