Carla Rodrigues*
O prefeito interino de Búzios, Rafael Aguiar (REP), acaba de anunciar que, no rol das mudanças em relação ao governo de seu antecessor e aliado, Alexandre Martins, vai reescrever o slogan da cidade. O que já era ruim (“Búzios, a cidade mais badalada do Brasil”), ficou pior: “Búzios, a cidade que não pode parar”. Escrevo para contrariar essa máxima, inteiramente equivocada.
Búzios precisa parar. Parar de crescer desordenadamente, sem planejamento, sem cuidando ambiental, sem gestão urbana. Búzios precisa parar. De gastar dinheiro demais em obras sem consulta pública, sem transparência, sem atender às prioridades da população. Búzios precisa parar de escoar pelo ralo o dinheiro dos royalties do petróleo em obras de asfaltamento de péssima qualidade de alta rentabilidade para empreiteiros.
Búzios precisa parar de jogar esgoto no mar, de driblar as necessidades de drenagem, de cuidar mal do seu circuito das águas, de ignorar que o seu maior patrimônio ambiental é o mar, seja pelo turismo, seja pela pesca. Búzios precisa parar de ignorar o corpo técnico de alta qualidade que compõe o quadro estatutário da administração municipal para dar espaço, voz e poder para pessoas despreparadas e, no mínimo, mal intencionadas.
Búzios precisa parar, sim. Mas não parar nos engarrafamentos que todos os dias inviabilizam a mobilidade urbana. Búzios precisa parar de atropelar pedestres, de impedir o trânsito de ciclistas, e sobretudo precisa parar de conviver com o barulho ensurdecedor das motocicletas. Búzios precisa parar de ignorar o Plano de Mobilidade Urbana e parar de ignorar o Plano Diretor.
Búzios precisa parar de desvalorizar a cultura e, principalmente, precisa parar de promover eventos caros e ruins, cujos custos são altíssimos para a administração pública e o retorno, no mínimo, duvidoso. Búzios precisa parar de fazer barulho nas praias, nas festas de casamento que não respeitam a lei, nas casas de temporada que ignoram os moradores, os vizinhos e o direito ao silêncio.
Búzios precisa parar de matar mulheres na rua, de ser invadida por milicianos, de ser desmatada ilegalmente, de ser todos os dias vilipendiada. Búzios também precisa parar de ser uma cidade desigual, a caminho de se tornar um péssimo exemplo de gestão de segurança pública.
Até as pedras da Rua das Pedras sabiam que orçamento estava estourado, que o dinheiro estava sendo mal gasto e que oito dos nove vereadores cobravam alto para fazer de conta que estavam fazendo o seu trabalho de fiscalizar as contas públicas. O vereador Raphael Braga foi voz solitária na oposição na Câmara. Por isso, o prefeito interino, Rafael Aguiar, precisa parar de governar fazendo de conta que é oposição. Ele passou os últimos três anos como presidente da Câmara apoiando todos os mandos e desmandos do prefeito cassado, Alexandre Martins, e de seu vice, Miguel Pereira, que é pai de Aguiar e segue como secretário de Obras.
Até onde se enxerga, o maior legado do ex-prefeito é um rombo orçamento ainda não totalmente dimensionado e produzido com conivência com o Legislativo. É um escárnio que este mesmo ex-prefeito tenha o poder de lançar a mulher, Danielle, candidata do Partido Republicano nas eleições suplementares, com o apoio do ex-deputado Eduardo Cunha e do prefeito Waguinho, sabe-se lá a troco de quê.
Búzios precisa parar de ser refém dos partidos de direita e extrema-direita cujo interesse na cidade é o cofre de ouro no fim do arco-íris, o orçamento anual de R$ 750 milhões. Búzios precisa parar de resolver a gestão municipal no Judiciário, porque até em tempos de judicialização da política é preciso um ponto de basta.
Búzios é uma cidade que precisa parar.
*Carla Rodrigues é filósofa, professora do IFF e da UFRJ. Carioca de nascimento, moradora e eleitora de Armação de Búzios por amor à cidade.
