* Paulo Baía

O desfecho do Caso Marielle Franco, ocorrido em 24 de março de 2024, marca um momento crucial na história do Estado do Rio de Janeiro e suas instituições. A resolução deste caso emblemático não apenas demanda justiça para a vítima e sua família, mas também convoca uma profunda reflexão sobre a necessidade premente de reinventar as estruturas políticas, sociais e institucionais que permeiam o cenário carioca e fluminense.

A Interconexão Criminosa e Institucional: Um Labirinto de Desafios

O Estado do Rio de Janeiro enfrenta uma intricada teia de interconexões entre organizações criminosas, instituições estatais e governamentais, bem como a sociedade civil. A permeabilidade dessas fronteiras entre o legal e o ilegal torna extremamente desafiador discernir entre aqueles que são parte do problema e aqueles que genuinamente buscam soluções.

Como apontado pelos renomados especialistas em política, economia e gestão carioca e fluminense , os professores Michel Misse, Daniel Hirata, Mauro Osório e Mayra Goulart, a falta de controle sobre vastos territórios e a influência generalizada e disseminada das organizações criminosas complicam ainda mais essa distinção. A necessidade de uma abordagem abrangente e enérgica, respaldada pelo ativismo cidadão e pelo apoio dos três poderes da União da República Brasileira, torna-se inegável diante desse cenário complexo.

Cidadania Ativista: A Força Transformadora da Sociedade Civil

A ascensão da cidadania ativista reflete um despertar da sociedade brasileira para o seu papel fundamental na construção de um Estado verdadeiramente democrático. A voz das ruas, dos espaços virtuais e das residências ecoa com uma exigência crescente por responsabilidade e transparência por parte das autoridades governamentais.

No entanto, a resposta das instituições políticas e governamentais ainda carece da agilidade e eficácia necessárias para atender às demandas da cidadania. A desarticulação do governo e a inércia das oposições apenas amplificam a sensação de descontentamento e desconfiança nas instituições estabelecidas.

Crise Política e Institucional: O Desafio da Representatividade

O estado do Rio de Janeiro se vê imerso em uma crise política e institucional que vai além de meras disputas partidárias. Trata-se de uma crise de representatividade, onde a população busca, de forma legítima, ser adequadamente representada e ouvida pelos três poderes da República.

O Caso Marielle Franco tornou-se um símbolo dessa crise, evidenciando a falência de um sistema que não apenas falha em proteger seus cidadãos, mas também em garantir a responsabilização pelos atos de violência e corrupção que permeiam suas estruturas.

Redefinindo o Pacto Social: Rumo a um Novo Paradigma:

Diante desse contexto desafiador, torna-se imperativo que o Estado do Rio de Janeiro se reinvente. Isso exige um compromisso renovado com os princípios democráticos, a transparência institucional e a participação cidadã ativa.

A resolução do Caso Marielle deve servir como um ponto de inflexão, catalisando um movimento de mudança e renovação que abranja todas as esferas da sociedade carioca e fluminense. Somente através de um esforço conjunto, que envolva tanto as instituições estatais quanto a sociedade civil, será possível construir um futuro mais justo, seguro e equitativo para todos os habitantes do Rio de Janeiro.

Conclusão

O desfecho do Caso Marielle Franco em 24 de março de 2024 não representa apenas o encerramento de uma investigação, mas sim o início de uma jornada rumo à transformação do Estado do Rio de Janeiro. Este momento crucial nos convoca a repensar nossas estruturas políticas, sociais e institucionais, e a reafirmar nosso compromisso com os valores fundamentais da democracia e da justiça.

Somente através do engajamento cívico, do ativismo cidadão e do apoio dos poderes constituídos, poderemos superar os desafios que se apresentam e construir um futuro mais promissor para todos os cariocas e fluminenses. O legado de Marielle Franco não será esquecido, mas sim honrado através de nossa determinação em criar um Estado mais digno, justo e seguro para as gerações futuras.

* Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ.