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Padre Lancelotti é aplaudido de pé, na primeira missa após veto: ‘Só quero ser irmão de todos’; vídeo

Religioso celebra primeira missa sem transmissão online, critica desigualdades e recebe apoio de fiéis em São Paulo

A primeira missa celebrada pelo padre Júlio Lancellotti após o veto imposto pela Arquidiocese de São Paulo à transmissão das celebrações pela internet foi marcada por forte carga simbólica, apoio popular e críticas sociais. O religioso conduziu a cerimônia na manhã deste domingo (21), de forma exclusivamente presencial, na capela da Universidade São Judas, na Mooca, zona leste da capital paulista.

Em um dos momentos mais aplaudidos da celebração, Lancellotti afirmou: “Não quero ser exemplo para ninguém, só quero ser irmão de todos vocês, especialmente irmão dos mais pobres, dos abandonados.” A missa lotou a capela e teve clima de mobilização política e religiosa.

Dom Odilo proibiu veiculação online

Há cerca de uma semana, o padre anunciou que deixaria de transmitir as missas semanais ao vivo e que também reduziria sua atuação nas redes sociais. A decisão ocorreu após determinação do arcebispo dom Odilo Scherer, que proibiu a veiculação online das celebrações. À Folha de S.Paulo, o cardeal resumiu o episódio como “assunto de um bispo com seu padre”. Já Lancellotti falou em um “período de recolhimento temporário”.

Críticas sociais e simbolismos na celebração

Durante a missa, o padre acendeu velas voltadas a diferentes pontos cardeais. Ao Ocidente, que chamou de “prepotente”, e ao norte, descrito como espaço dos poderosos, em contraposição ao sul global. “Quem não sabe onde é o norte é um desnorteado”, disse, sob aplausos, informa a Folha.

Conhecido pelo trabalho social com a população em situação de rua, Lancellotti voltou a criticar desigualdades e violência. Citou o feminicídio em São Paulo e afirmou que “os lugares mais iluminados da cidade são aqueles onde Jesus não entra, porque lá não entram os pobres”. Em outro momento, retomou um lema pessoal: “Força e coragem, ninguém desanime!”, confessando que também repete a frase para si mesmo.

Apoio de fiéis e reação ao veto

A celebração contou com manifestações explícitas de solidariedade. Um grupo de mulheres trans exibiu um cartaz com a frase “o amor ao próximo não pode ser silenciado”. Uma delas, Rafaella Stephanny da Rocha, 29, disse que estava ali para apoiar o padre “que me ajuda muito”.

Representantes da paróquia também se pronunciaram. Raul Huertas, da pastoral da comunicação, leu um texto em desagravo ao religioso. “Quando ferem o padre, ferem também nossa paróquia”, afirmou, dizendo haver tentativas de caluniar alguém que “ousa amar o próximo para além do discurso”.

Abaixo-assinado em defesa de Padre Lancellotti

Antes da missa, integrantes da comunidade anunciaram um abaixo-assinado em defesa de Lancellotti, que já reunia centenas de assinaturas. Segundo os organizadores, muitos presentes não eram católicos e o público foi maior do que em celebrações anteriores.

Entre os fiéis, as críticas ao veto foram diretas. A professora Teresinha Pinto, 68, classificou a decisão como perseguição ideológica e questionou a proibição das transmissões. “Hoje poucos padres têm a audiência dele. Quando ele fala nas redes, ele está evangelizando”, disse. Para o casal Luzanira Santana e Donivan Paladino, a medida representa censura. “É um cerceamento de liberdade”, resumiu ele.

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