Base governista cobra fim de contratos bilionários da Defesa com Israel

Dinheiro usado para abastecer Forças Armadas estaria servindo, por tabela, para “financiar o massacre” de palestinos em Gaza

A base de Lula na Câmara dos Deputados cobra o fim de contratos bilionários do governo com empresas israelenses, informa o colunista do portal Metrópoles Paulo Cappelli. Na mira estão, sobretudo, repasses oriundos do Ministério da Defesa para atender a demandas do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

O movimento é encabeçado por parlamentares de PT, PDT, PSol e PCdoB. Para os governistas, o dinheiro usado para abastecer as Forças Armadas está servindo, por tabela, para “financiar o massacre” de palestinos na Faixa de Gaza. Há, também, questionamentos sobre a segurança de se importar material bélico de Israel em meio ao aumento da tensão entre Benjamin Netanyahu e Lula.

Vice-presidente nacional do PT, o deputado federal Washington Quaquá informou à reportagem que vai procurar o Ministério das Relações Exteriores para discutir o fim dos repasses. “Israel não tem uma aliança estratégica com o Brasil. É preferível fazer acordos com Itália e França, que são muito próximas do Brasil do ponto de vista militar. A França já faz submarinos com a gente. No mercado, tem China, Rússia e, mesmo, os Estados Unidos”, argumentou o vice-presidente do PT.

“Não vejo por que o Brasil deva manter contratos com Israel, que não tem relevância geopolítica para nós. Pelo contrário, só nos traz problemas. E, hoje, é um país genocida”, afirmou Quaquá.

Contrato bilionário

O Itamaraty também será acionado por Jandira Feghali, do PCdoB. “Precisamos descobrir quais dos contratos é possível cortar, tanto na questão do fornecimento [se há serviços que apenas Israel pode oferecer] quanto se é possível do ponto de visita administrativo”, explicou.

Nos últimos dias, o Exército selecionou a israelense Elbit para um projeto de aquisição de 36 viaturas blindadas de combate obuseiro. O valor estimado, para uma lista de quatro empresas, é de R$ 1,2 bilhão. Para Max Lemos, do PDT, é preocupante que o Brasil mantenha contratos com empresas de Israel em meio à troca de farpas entre Lula e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

“Nosso Ministério da Defesa tem que estudar alternativas com urgência para não depender de Israel, haja vista que o próprio governo brasileiro criou atritos com o governo israelense. Importar recursos bélicos de Israel, em meio a uma escalada de tensão, gera insegurança. Podemos confiar 100% nesses produtos que estamos recebendo?”, indagou Max Lemos.

Aeronaves não tripuladas

Em março, em meio às tensões entre o governo Lula e Israel, a Força Aérea Brasileira (FAB) contratou por R$ 86 milhões, sem licitação, a empresa Israel Aerospace Industries LTD para manutenção de duas aeronaves modelo Heron-I, pilotadas remotamente.

O acordo motivou um requerimento da deputada Fernanda Melchionna, do PSol, solicitando informações do Ministério da Defesa sobre os valores a serem pagos e os serviços prestados pela empresa. O contrato estabelece a prestação de serviços, por demanda, de suporte logístico ao sistema dos drones.

No requerimento, a deputada questiona solicita o relatório de atividades das aeronaves Heron I e a relação de contratos vigentes com Israel. Ela também questiona a existência de negociações entre a FAB e “o Estado de Israel ou empresas israelenses de tecnologia militar, armamento ou munição”.

Melchionna, que integra a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, também quer saber quantos contratos das Forcas Armadas foram assinados ou renovados com empresas israelenses desde outubro de 2023, quando teve início o conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.

A deputada aponta o risco do dinheiro brasileiro estar sendo usado para “financiar a continuidade do massacre histórico do povo palestino”.

Além do contrato com a Israel Aerospace Industries, a FAB tem outros dois acordos em vigência com a empresa israelense Aeroeletronica International Ltda. O primeiro, segundo a FAB, é “direcionado ao acordo de compensação do projeto E-99M”. O segundo visa a “aquisição de duas aeronaves RQ-900, com fornecimento de equipamentos e peças sobressalentes”.

Projetos

O projeto E-99M prevê a modernização de cinco aeronaves de vigilância desse modelo, fabricadas pela Embraer e pertencentes à FAB. Ele envolve fornecedores como a Saab, a Aeroelectronica International e a Rohde & Schwarz. Segundo o relatório de gestão do Comando da Aeronáutica de 2019, o acordo de compensação com a Aeroelectronica International foi de US$ 16,3 milhões, cerca de R$ 81,5 milhões em valores atuais. A última aeronave modernizada foi entregue à FAB em novembro de 2023.

No Brasil, a Aeroeletronica International é representada pela AEL Sistemas, com sede em porto Alegre. A empresa é presidida pelo israelense Gal Lazar e tem 31 contratos com o governo federal, incluindo o Ministério da Defesa, a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os dois últimos vinculados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Em nota enviada à coluna, a FAB negou ter contratos em negociação com empresas israelenses do setor de Defesa e disse não ter assinado qualquer acordo após o início do conflito com o Hamas na Faixa de Gaza, em outubro de 2023.

“A Força Aérea Brasileira (FAB) informa que, atualmente, está vigente entre Brasil e Israel um contrato com a empresa Israel Aerospace Industries, que objetiva atender a restauração, treinamento e suporte logístico para Aeronave Remotamente Pilotada (ARP) HERON-1, e também dois contratos com a Aeroeletronica International Ltda, um direcionado ao acordo de compensação do projeto E-99M, e o outro visando à aquisição de duas aeronaves RQ-900, com fornecimento de equipamentos e peças sobressalentes. A FAB ressalta que não existem contratos em processo de negociação com Israel ou empresas israelenses de tecnologia militar. Por fim, cabe enfatizar que não foram assinados ou renovados contratos com empresas israelenses desde outubro de 2023”, diz a nota da FAB.

Contratos com o Exército

A AEL também tem contrato firmado com o Exército Brasileiro. O acordo, no valor de US$ 2,4 milhões – cerca de R$ 12 milhões -, prevê a aquisição de sistemas eletrônicos de detecção de luz (optrônicos) para o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron).

Outra empresa israelense, a Elbit, está entre as quatro selecionadas em licitação aberta pelo Exército para compra de 36 veículos blindados de combate. O valor do contrato é de R$ 1,2 bilhão.

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