A importância da moderação na era da desinformação: um olhar crítico

Vivemos em uma era de polarização exacerbada, onde as redes sociais se tornaram o epicentro de debates acalorados e muitas vezes tóxicos.

 * Paulo Baía

O pensamento de Oscar Wilde ecoa através dos tempos, especialmente em um contexto onde a moderação parece ser uma virtude cada vez mais rara. Vivemos em uma era de polarização exacerbada, onde as redes sociais se tornaram o epicentro de debates acalorados e muitas vezes tóxicos. No entanto, a questão não reside apenas na polarização em si, mas sim na maneira como ela é alimentada e perpetuada. Assim como Oscar Wilde disse: “Convém ser moderado em tudo. Até na moderação.”

A “Calcificação das relações sociais”, como mencionado por Felipe Nunes e Thomas Traumann no livro “A Biografia do Abismo”, é um fenômeno que tem se tornado cada vez mais evidente. As pessoas tendem a se agrupar em bolhas ideológicas, onde são expostas apenas a informações que confirmam suas crenças preexistentes. Nesse ambiente, as “FakeNews” encontram terreno fértil para se disseminarem. Plataformas como WhatsApp, Telegram e TikTok se tornaram veículos eficazes para a propagação de desinformação, muitas vezes disfarçada de verdades convenientes.

No entanto, o problema vai além da mera disseminação de notícias falsas. O verdadeiro desafio reside na forma como essas “FakeNews” influenciam a percepção da realidade e distorcem os “Valores Éticos e Morais” de uma sociedade. Na era do “Contexto Comunicacional” digital, a linha entre verdade e mentira torna-se cada vez mais tênue. A mentira não apenas é tolerada, mas muitas vezes celebrada, desde que se alinhe com as narrativas dominantes.

É nesse cenário que a moderação assume um papel crucial. Ser moderado não significa ser passivo ou indiferente, mas sim adotar uma postura crítica e reflexiva diante das informações que nos são apresentadas. É questionar, investigar e buscar fontes confiáveis antes de aceitar cegamente qualquer conteúdo que nos é oferecido. É também cultivar o diálogo e o debate saudável, mesmo com aqueles com quem discordamos.

O paradoxo da moderação, como apontado por Wilde, é que até mesmo ela deve ser praticada com moderação. Isso significa não se tornar complacente diante das injustiças e das mentiras, mas também não cair na armadilha da polarização e do extremismo. É encontrar o equilíbrio entre o engajamento ativo e a serenidade, entre a paixão e a razão.

Em um mundo cada vez mais dividido e confuso, a moderação pode parecer uma virtude antiquada. No entanto, é precisamente em momentos de crise e incerteza que sua importância se torna mais evidente. É através da moderação que podemos construir pontes em vez de muros, promover o entendimento em vez do conflito, e preservar os “Valores Éticos e Morais” que são fundamentais para a nossa convivência em sociedade.

Portanto, que possamos lembrar das palavras de Wilde não apenas como um lembrete da importância da moderação, mas como um chamado à ação. Em um mundo onde a verdade é muitas vezes distorcida e as vozes da razão são abafadas pelo ruído das redes sociais, ser moderado pode parecer uma tarefa árdua. No entanto, é precisamente por isso que é mais importante do que nunca.             

* Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ.

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