• Paulo Baía

No trecho paradisíaco entre a Praia do Borba e a Ponta do Alcaira, no distrito de Figueira, Arraial do Cabo, Rio de Janeiro, a beleza natural da Laguna de Araruama é ensombrada pela presença perturbadora de pneus descartados. Nesse ecossistema delicado, onde as águas deveriam refletir tranquilidade, encontramos uma intrusão massiva de pneus encalhados, muitos já cobertos pelo musgo, submersos sob a superfície serena.

A origem desses pneus é uma incógnita que intriga a todos os que testemunham essa visão surreal. A chegada em massa de pneus à Laguna de Araruama representa um crime ambiental sem pistas claras, desafiando não apenas a lógica, mas também a sensibilidade ambiental.

Por que esses velhos pneus não são removidos? Esta é outra questão que suscita preocupações e indignação. Em uma área tão bela e sensível, onde a preservação ambiental deveria ser uma prioridade inegociável, a presença negligente desses resíduos industriais é, no mínimo, perturbadora. A inação em lidar com essa questão levanta sérias dúvidas sobre a eficácia dos esforços de conservação ambiental na região.

Seria essa a nova realidade? A aceitação passiva desse cenário de degradação ambiental como algo inerente à paisagem da Laguna de Araruama é uma posição perigosa e irresponsável. A normalização do abandono de resíduos industriais em um ambiente natural tão precioso é um sintoma alarmante da indiferença crescente em relação à saúde do nosso planeta.

A revelação desse dilema ecoa além das fronteiras físicas da Laguna de Araruama. É um chamado à ação para todos os que testemunham a tragédia ambiental que se desenrola em suas margens. É um lembrete contundente de que a preservação do meio ambiente não é uma opção, mas uma obrigação moral e ética que recai sobre todos nós.

Em um mundo onde a destruição do meio ambiente é muitas vezes vista como um custo aceitável para o progresso, é crucial desafiar essa mentalidade e defender incansavelmente a integridade dos nossos ecossistemas. A presença dos pneus na Laguna de Araruama não deve ser tolerada, e a sua remoção imediata e a implementação de medidas de prevenção devem ser prioridades urgentes.

O desafio ambiental da Laguna de Araruama é um reflexo das ameaças mais amplas que enfrentamos como sociedade global. É um lembrete vívido de que nossas ações individuais e coletivas têm repercussões profundas no mundo natural que nos cerca. Portanto, é imperativo que enfrentemos esses desafios com coragem, determinação e um compromisso inabalável com a proteção do nosso planeta para as gerações futuras.

* Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ.