Emoções além da planura: a importância do ‘eu lírico’ na arte

Ao criar uma obra, seja romance, conto, poema, enredo ou canção, o autor é motivado por diversas razões, muitas vezes refletindo sobre si mesmo, o entorno ou os sentimentos alheios.

 * Paulo Baía

A literatura, cinema, teatro, música e o carnaval sempre exerceram fascínio em minha vida, proporcionando experiências emocionais profundas. Da leitura de poemas à contemplação das telas, explorei o lirismo, romantismo e a realidade nas diversas formas artísticas.

Ao criar uma obra, seja romance, conto, poema, enredo ou canção, o autor é motivado por diversas razões, muitas vezes refletindo sobre si mesmo, o entorno ou os sentimentos alheios. A distinção entre a narrativa em primeira pessoa e a fala de personagens é essencial para compreender o “Eu Lírico” e a capacidade do autor em transmitir emoções diversas.

Muitas vezes, ouço críticas sobre obras não refletirem fielmente a realidade. No entanto, literatura, teatro, poesia, ópera e música não buscam ser documentos precisos, mas sim ampliar o sentimento do mundo, proporcionando ao leitor uma interpretação pessoal.

A rica tradição literária, cinematográfica, dramatúrgica e artística que atravessa séculos e culturas corre risco de ser eclipsada por movimentos que demandam neutralidade emocional nas obras. O perigo de eliminar a expressão emocional na literatura, música, dramaturgia ou cinema, em prol de um ativismo de superioridade ético-moral, ameaça a diversidade artística.

Estamos sob a ameaça de um “terraplanismo cultural” que busca impor uma visão moral estreita, deletando a riqueza produzida ao longo dos séculos. É crucial reconhecer que as emoções humanas são circulares e dialéticas, indo além de uma perspectiva de planitude.

Recentemente, participei de um curso sobre Shakespeare e Nelson Rodrigues, com o criativo Moacyr Góes, ampliando minha compreensão do “Eu Lírico” e dos sentimentos humanos na ficção e dramaturgia. A visão de Shakespeare como um observador emocional do mundo, além de suas reflexões sobre poder, ciúmes e invejas, enriqueceu minha percepção da literatura.

Concordo com a urgência de bradar ao mundo que as emoções não são de planitude. Em sintonia com Cesar Benjamin, é necessário rejeitar a ideia de um “terraplanismo cultural” e abraçar a complexidade e diversidade das emoções humanas.               

* Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ.

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