Duas eleições para prefeito em Búzios em 2024 sacodem a cidade

A gestão de Alexandre Martins realizou o mesmo desmonte das estruturas de governo promovido no plano federal entre 2019 e 2022: conselhos municipais foram esvaziados, a representação da sociedade civil foi ignorada, a obra de reforma do Centro foi realizada ao arrepio do que manda o Estatuto da Cidade

CARLA RODRIGUES*

A decisão do TSE de cassar, por compra de votos, a chapa Alexandre Martins/Miguel Pereira desmonta a hipótese de que a política em Búzios esteja apática. O movimento é intenso, seja na Câmara dos Vereadores, onde o vereador Rafael Aguiar – filho de Miguel – tomou posse, seja na sede da Prefeitura, com a perspectiva de troca de parte do secretariado, em especial daqueles nomes muito de confiança do ex-prefeito, como era o caso da secretária de Saúde já afastada. O mandato do presidente da Câmara de Vereadores promete ser curto, com a perspectiva de a Justiça Eleitoral convocar eleições suplementares. Com isso, os eleitores serão convocados a comparecer às runas duas vezes em 2024 – em junho, para a suplementar; em outubro, para a regular.

No plano local, a gestão de Alexandre Martins realizou o mesmo desmonte das estruturas de governo promovido no plano federal entre 2019 e 2022: conselhos municipais foram esvaziados, a representação da sociedade civil foi ignorada, a obra de reforma do Centro foi realizada ao arrepio do que manda o Estatuto da Cidade. Nesse cenário autocrático, não é de estranhar que o eleitorado pareça não querer saber de política. Se os próprios políticos eleitos desqualificam a política como lugar de debate amplo e aberto sobre os rumos da cidade e suas prioridades, como mobilizar a participação popular?

É um erro achar que eleitores e eleitoras não saberão fazer a diferença entre as bonitas fotos da propaganda oficial e o que enxergam nas suas ruas alagadas pelas chuvas, no esgoto correndo para o mar, na omissão em relação à invasão de terras, nas obras caras, ruins e desnecessárias, como a reforma do centro, e o descaso com a prevenção de doenças como a dengue, por exemplo.

As duas eleições no mesmo ano vão exigir dos candidatos locais intensa mobilização. Quem quiser ser competitivo em outubro vai precisar disputar a eleição suplementar de junho, e nesse movimento ganhar cacife para a eleição de outubro. Se a cassação de Alexandre parece melhorar o cenário para a oposição, também confunde as coisas no campo de quem está no poder. 

Aguiar é filho de Miguel, o vice-prefeito que, embora cassado, permanece elegível, e já está tomando providências para se afastar da gestão de Alexandre. Na última quarta-feira, 7 de fevereiro, pediu ao TSE que seja considerado como parte no processo que cassou Alexandre. Vai providenciando, assim, um afastamento estratégico e tenta ficar livre de defender nas urnas o mandato de um prefeito cassado por compra de votos, cuja gestão está desde o início comprometida.

Búzios é uma cidade pequena muito peculiar: frequentada por turistas nacionais e internacionais, destino de migração nacional e internacional, desde a emancipação tem sido disputada palmo a palmo por interesses econômicos, principalmente imobiliários, que arriscam a preservação da charmosa vila de pescadores com ares cosmopolitas. É triste que este lugar tão único tenha sido governado durante três anos por um prefeito sob suspeição, num processo que demonstra também o quanto a Justiça Eleitoral precisa ser mais ágil e menos vulnerável a ingerências externas.

*Carla Rodrigues é filósofa, professora do IFF e da UFRJ. Carioca de nascimento, moradora e eleitora de Armação de Búzios por amor à cidade.

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