A audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) que ouviu investigados e autoridades no caso do Banco Master foi marcada por tensão institucional, acareação e até intervenção direta de ministro para definir o andamento do ato processual. A sessão ocorreu nesta terça-feira (30) e se estendeu por quase oito horas.
O procedimento foi determinado pelo ministro Dias Toffoli, relator da investigação, e incluiu os depoimentos de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, do ex-presidente do Banco Regional de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e do diretor do Banco Central, Ailton de Aquino.
Ao longo da audiência, divergências sobre a condução dos trabalhos provocaram um desentendimento entre a delegada da Polícia Federal e um juiz auxiliar do STF, o que exigiu contato telefônico com o próprio relator para definir a sequência dos atos.
Desentendimento marca início da audiência no STF
Antes mesmo do início formal dos depoimentos, houve um impasse entre a delegada da PF Janaína Palazzo e o juiz auxiliar Carlos Vieira Von Adamek. A discordância envolveu a ordem dos procedimentos, especialmente sobre o momento adequado para a realização da acareação entre os investigados.
A delegada defendia o cumprimento da determinação original de Toffoli, que previa a acareação. Já o juiz auxiliar indicava que os depoimentos deveriam ser colhidos antes. Embora o STF tivesse divulgado nota indicando que a acareação ocorreria apenas se fosse considerada necessária, não houve comunicação formal à Polícia Federal.
Diante do impasse, Adamek entrou em contato telefônico com Dias Toffoli, que decidiu que os depoimentos seriam tomados antes de qualquer confronto de versões. O juiz também repassou à delegada uma lista de perguntas atribuídas ao ministro, o que gerou novo atrito sobre a autonomia da investigação.
Vorcaro critica Banco Central em depoimento
Primeiro a ser ouvido, Daniel Vorcaro prestou depoimento por cerca de três horas. Foi a primeira vez que ele falou formalmente à delegada responsável pelo inquérito, a mesma que havia pedido sua prisão no contexto das suspeitas de fraude envolvendo o Banco Master.
Durante o interrogatório, Vorcaro afirmou ter sido surpreendido pela liquidação extrajudicial da instituição financeira e fez críticas à atuação do Banco Central. Segundo ele, a medida teria sido adotada de forma inesperada.
Na sequência, foi ouvido o ex-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, cujo depoimento durou cerca de duas horas. Em seguida, o diretor do Banco Central, Ailton de Aquino, também prestou esclarecimentos, mas foi dispensado da acareação por não figurar como investigado no caso.
Acareação e indícios de fraude no Banco Master
Após os depoimentos, a Polícia Federal promoveu a acareação entre Daniel Vorcaro e Paulo Henrique Costa, com foco em contradições apontadas nas versões apresentadas. O confronto durou aproximadamente meia hora.
Investigadores avaliaram que as informações prestadas pelo diretor do Banco Central detalharam falhas na fiscalização e colocaram os investigados em situação delicada. A apuração aponta que o Banco Master teria vendido ao BRB cerca de R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito inexistentes.
Segundo a investigação da PF e do Ministério Público Federal (MPF), documentos falsos teriam sido apresentados ao Banco Central para tentar dar aparência de legalidade à operação. Em um período mais amplo, as transferências do BRB ao banco privado somariam R$ 16,7 bilhões.





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