As pesquisas eleitorais precisam ser inteligentes.

*Paulo Baía. A questão das pesquisas de opinião eleitoral está dividindo as mídias, e com certa timidez as falas dos acadêmicos, dos especialistas em ciência política e sociologia política.  Oa sociólogos estão com medo de bater nas pesquisas, nos institutos comerciais de pesquisas de mercado e opinião, com medo de serem chamados de conservadores, de…

*Paulo Baía.

A questão das pesquisas de opinião eleitoral está dividindo as mídias, e com certa timidez as falas dos acadêmicos, dos especialistas em ciência política e sociologia política.

 Oa sociólogos estão com medo de bater nas pesquisas, nos institutos comerciais de pesquisas de mercado e opinião, com medo de serem chamados de conservadores, de negacionistas, de contra as ciências, as técnicas, contra as pesquisas em geral.

Quero chamar a atenção para a necessidade de um debate público após o dia 30 de outubro de 2022.

No ano de 2023 temos que descortinar novas formas de fazer pesquisa de opinião.

Hoje temos no Brasil um apagão de dados estatísticos e informações, não apenas pela falta do Censo de 2020 do IBGE. Todos os dados que temos estão baseados na PNAD contínua do IBGE, que é falha, pois nós últimos 10 anos acontece um fenômeno: as pessoas estão se recusando a dar informação, a responder pesquisas, sobretudo presencialmente ou por telefone. Por que acontece isso?

As pessoas que se recusam a dar informação não são contabilizadas em lugar nenhum. Isso tem acontecido nas pesquisas de opinião eleitoral com muito mais frequência do que se reconhece.

Pergunta-se às pessoas se querem responder um questionário, seja na captura de informações face a face seja via telefone. As pessoa que dizem que não querem responder a pesquisa simplesmente são descartadas. Essa informação não é registrada no mapa das pesquisas, parte-se para outra pessoa. As pessoas que se recusaram a responder pesquisa são 3%, 5%, 7%,  10%?

Procurar entender este fenômeno é um desafio das ciências sociais do tempo presente, é um fato que afeta o retrato da pesquisa, ao mesmo tempo que o apagão de dados nos impede de desenhar o universo a ser pesquisado. Não temos como fazer um desenho do universo, pois faltam dados gerais confiáveis sobre classificação socioeconômica, categoria de renda, categoria de consumo, de religião, de idade, nos faltam dados para sabermos o total da população brasileira.

O total da população eleitoral nós temos com os registro públicos do TSE, são recentes, mas esse dado, o número total de eleitores, não localiza o perfil do eleitor com mais detalhes além da idade, sexo, local de moradia.

Como temos que  definir o tamanho da população eleitora brasileira com os dados do TSE, não trabalhamos com o tamanho da população brasileira, pois só o temos por projeções em cima de projeções; o que torna difícil capturar, hoje, uma segmentação socioeconômica, uma segmentação de renda, uma segmentação religiosa, uma segmentação demográfica. As pessoas que não respondem essas questões ficam escondidas no desenho de adensamento territorial.

Há necessidade de novas técnicas para se desenhar o universo. O Censo do IBGE de 2022 já vai nascer impreciso, existem brasileiros que não terão acesso aos recenseadores, e brasileiros que estão se recusando a responder à pesquisa, principalmente ao questionário maior, o questionário que representa 25% da amostra brasileira.

É evidente que teremos um retrato distorcido da população, do perfil demográfico brasileiro.

No momento, chamo atenção para a necessidade de termos outras técnicas para visualizar o tamanho da população, de segmentar a população em categorias de renda, em categorias de consumo, em categorias de religiosidade, com  softwares de Inteligência Artificial, fotos de satélites, geoprocessamento territorial para ver as concentrações demográficas, a ocupação territorial.

É preciso ter acesso ao cadastro de movimentação financeira despersonificada, informações que a Receita Federal e o Ministério da Econômia possuem, para facilitar a definição socioeconômica, as definições por categoria de renda, para se correlacionar, por softwares de Inteligência Artificial, os bancos de dados do uso dos cartões de créditos, de débitos, os PIXes, os bancos de dados do SUS – Sistema Único de Saúde, da mesma maneira que tem-se que ter acesso aos bancos de dados dos planos de saúde, aos dados educacionais do MEC, do INEP.

Fazer uma pesquisa eleitoral exige uma abordagem mais complexa, com a utilização da Inteligência Artificial. É preciso ter capacidade de correlação maior do que se tem hoje para se ter um desenho do universo. A partir desse desenho de universo tem-se condições de se fazer um desenho,  um plano amostral que reflita de fato o universo a ser escutado, um plano amostral com perfil mais realista dos entrevistados.

As técnicas de captura das informações e de localização dos entrevistados deve ser uma combinação do face-a-face presencial, da telefonia e de plataformas digitais.

Hoje existem institutos que trabalham com as três técnicas, mas cada pesquisa com sua técnica específica.

As pesquisas têm que ser reinventadas, esse é o papel e função de tecnólogos e cientistas.

*Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ.

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